sábado, dezembro 18, 2010

Assassinato na Rede



Ilusões deslizam
em cabos.
Mentira Virtual,
um eu diverso
me aniquila
numa página

Injustiça

Não é a gente que mata o tempo.
Ele é que é suicida.

quinta-feira, setembro 16, 2010

Ano versado



Naquele tempo
desfaleci sobre os traços
do desenho de teu corpo
recém inventado
pelo mestre das cores...

O que era eu?

Te vi nascer entre
voluptuosas curvas de nanquim,
preenchidas, nas ausências do tempo,
por matizes sonoros de sonhos.

O que era eu?

Trechos de azul disputando
teus espaços vazios
e o vermelho vivo do teu coração.

terça-feira, julho 20, 2010

Deserto

A tarde se fratura.
E o outono tem sempre
esse gosto de fim, que te aniquila.

O vento escuro suga tua alma
(aberta confusamente)
para a solidão das pedras frias: a matéria triste das montanhas.

Melancolias alcoólicas te povoam.

Bolhas de sonhos explodem no ventre
infecundo das estrelas.

Em vão, estendes os braços trágicos
a procura da alavanca que possa
frear o irreversivel.

Estás só, estática esfinge
sem enigma.

                                   Simone .T

segunda-feira, abril 26, 2010

Brincando com satélites


Você sonha comigo
Você sonha que estou
Encantando estrelas
Brincando com satélites
aprendendo esgrima em terreno lunar...

Forças estranhas me levam para longe...
Dançando entre asteroides.
Você chora como uma velha abandonada.

Cometas me arrastam pelo azul noturno...

Você sonha comigo
Você sonha que estou
Flutuando e queimando
Estilhaçando a lua com um grito.
Cavalgando estrelas
Encantando satélites
Pintando planetas no caos.

domingo, abril 25, 2010

Safo


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Princesas sáficas de cabelos roxos

Dançam ao redor da madeira

De velhos navios em chamas

Se beijam, bêbadas
Em louvor à Baco

Rajadas de flores verdes
Umedecem o coração do caos.
Borboletas aborrecidas
Sugam a inconstância do céu

Tua voz violenta toda dor
Veloz, como vagões em Gotann City

Eros, distraído, não me sabe infeliz

Por tua ausência
Se soubesse,
Choraria
Como cabelos de tempestade
Choram tristes perfumes.

terça-feira, abril 20, 2010

Você é virgem?!

Fui ao ginecologista.Exame de rotina anual. Aquele chato, cujo procedimento principal é o médico colocar uma coisa pontuda dentro da gente e tirar um pedacinho de célula.Além  disso, como a esperança é imortal, fui também, pela milhonésima vez, em busca de alguma solução para a sempre companheira tensão pré- menstrual.
Fiquei duas horas esperando o doutor.Quando ele chegou, iniciou o atendimento mais rápido da história da medicina: não ficava nem dois minutos com cada paciente. E eu tinha coisas pra contar, coisas tristes, tais como os monstros em que se transformam os pequenos problemas, nesses períodos mensais difíceis. E queria falar dos pesadelos, que me acordam no meio da noite, aos gritos desesperados, e comigo, toda a vizinhança. Queria falar também do medo absurdo do trânsito, dos amassados no carro, devido as crises de nervo injustificadas e repentinas durante as manobras, nessas épocas de revertério hormonal.E da falta de cor de todas as coisas.E da vontade, também injustificada, de me atirar na frente dos ônibus em movimento. Queria falar do meu coração, que palpita mais do que pode, e do sufoco que sinto e das explosoes de choro, e da vontade de virar eremita, e das brigas de novela mexicana que provoco.E de como me sinto um verme. E de como eu perco todo o valor que tenho e me sinto a pessoa mais triste do mundo, a mais sozinha, a mais desafortunada...
Mas dois minutos não seriam suficientes.Então ele me mandou entrar, me mandou tirar a roupa, me mandou deitar na maca, me mandou abrir as pernas e me mostrou minha vagina, em zoom 300%, numa tela de computador.Lá estava ela, vermelha, obscena, e gigantesca.Então pensei " aí está  a culpada dos meus crimes"... Vermelha, quente e bela. Vagina é o máximo.
Depois do choque do zoom 300% ele começou a me encher de perguntas. Vou reproduzir o diálogo, para dar um tom mais realista e dinâmico:

_O que te traz aqui?
_Rotina.E quero um remedinho pra TPM.
_TPM ou cólicas?
_ Eu sei a diferença.TPM mesmo, doutor.
_Já abortou?
_ Não.
_ Já engravidou?
_ Não.
_ Utiliza algum método anticoncepcional?
_ Não.
_ Tem vida sexual ativa?
_ Sim.
_ E como você faz pra não engravidar?
_ Não faço nada.
_ Por quê?
_ Porque o meu tipo de relação sexual não engravida.
_ E que tipo de relação seria esse?
_ Eu sou lésbica.

Até então o doutor tinha feito todas essas perguntas idiotas sem olhar para mim. Ele estava apaixonado pelo prontuário. Diante da minha resposta natural à sua pergunta imbecil, ele me olhou. E foi com perplexidade que me perguntou:
_ Então você é virgem?!
Eu ri. Ou melhor, caí na gargalhada. Saí daquela posição humilhante e me sentei na maca.
_ Doutor, se o que você chama de virgindade é uma mulher nunca ter sido penetrada por um pênis,pode ficar traquilo, pois não me enquadro  nessa categoria.Pode colocar, numa boa, essa coisa pontuda em mim,porque não vai arrebentar o meu hímen.Mas acho que seu conceito de virgindade é bem pobrezinho, né não?
Ele não aprendeu a lição. Continou fazendo perguntas burras:
_ Peraí, não tô entendendo.. Você namora?
_ Namoro a mesma garota há 4 anos.
_ e quando você descobriu que não queria mais homens....
_ Aff,vai estudar psicanálise!
E, por fim, depois daquela coisa pontuda me machucando, e da overdose de machismo e burrice, ainda me receitou um medicamento para TPM que não existia mais no mercado.

quinta-feira, abril 01, 2010

40 graus

Sulfúrica, ela rasteja
por ruínas de escuros tons.
A acidez que evoca, pranto inconsolável de crianças mortas.
A fome
As bombas
As batalhas

Queimando...

Enquanto o mundo trepida
matando de náusea
tripulantes de estômagos sensíveis.

Rasuras de sonhos


Queria agora estar sonhando
com um retorno feliz para casa( a nossa)
onde eu te encontraria debruçada
sobre rasuras de sonhos
gentilmente lapidados.
E tu me imprimirias
mais uma vez o teu sorriso,
o qual eu cuidadosamente sorveria
enfeitiçada por trilha sonora de chuva
e perversidades úmidas de luas escuras e mortas.