sexta-feira, setembro 20, 2013

Distraídas astronautas

O céu sempre me pareceu
tão masculino
todo azul
e com um deus morando  dentro

( segundo as narrativas da mãe
quando eu ainda era o inchaço em seu ventre
e captava sussurros
pelas viscosidades da placenta).

Um deus de barba branca
no trono- ela dizia.
Trovejante voz paterna
ordenando o alternar dos dias
e das estações e dos tons de azul
do céu
que sempre me pareceu tão masculino
Porque lá tinha um trono.
Porque lá tinha uma ordem.
Porque lá tinha um grito.

Mas então vem a lua
e um império inteiro desaba.
Odores de fêmea
umedecem os ares.

A lua, inchada
como a barriga da mãe
quando me contava mentiras

A lua, pálida ou vermelha
ou quando a sombra ameaça
sua estranha claridade.

E de perto ( bem de perto)
-Por dentro-
Uma profusão de chagas escancaradas
Crateras
sobre as quais
distraídas astronautas
de tempos em tempos
 vêm pisar
alargando feridas
fincando bandeiras
enlouquecendo
Para, em seguida,
Desaparecerem para sempre.

quinta-feira, setembro 19, 2013

Vagão

Nesta noite
não te amarei em Singapura
entre as cores da Pequena Índia
e o cheiro que falta
à profusão de perfumes.

Nesta noite
não te verei em Andrômeda
aprisionada em
azuladas bordas de estrelas velhas.

Nesta noite
não te verei em Guadalupe
embora insista em extrair
rosas das pedras.
O que umedece em mim
não são os meus olhos.

Nesta noite
não te verei na Praça 7
onde é negra a roupa da juventude.
Rodinhas de skate deslizam
em poças de urina
e no meu sonhar todos os teus lábios.

Um pássaro grita dentro de mim.
afundas, indiferente,
na irreparável treva do nunca.