segunda-feira, maio 05, 2014

Pequena crônica sobre a impotência



Era um cachorro preto, vira-latas, de porte médio.
Alguém, num infeliz rito de crueldade, tinha lhe arrancado quase todos os pelos do corpo e todas as camadas de pele que existiam entre pelo e carne.
O encontrei numa esquina escura, em certa madrugada em que eu também sofria pequenas mutilações. Simbólicas, é preciso dizer.
Ele estava de pé, como quem resiste. Mas olhos de cão não foram treinados para esconder tristeza e dor.
Olhou para mim pedindo socorro.
Me aproximei e, com delicadeza e revolta, toquei sua carne exposta e maltratada.
Eu nunca saberia lidar com uma ferida tão grande como aquela.