sexta-feira, junho 06, 2014

Blue para a lâmina das horas


A mãe dormia
de boca aberta
quase toda vestida de tempo.

A pele do corpo inteiro 
cortada: a lâmina das horas.

Bem de perto
as linhas do rosto formam um mapa.
De dentro dele
o desenho de uma palavra,
pedra não lapidada,
escapa:

-Órfã!

A palavra-pedra pulsa.


Escorro pelas fendas da noite
comendo a cor amarela
das lâmpadas dos postes
das ruas em outono,

ruminando
a memória entranhada
num viaduto
numa árvore
numa esquina
num muro

Essa infância triste
misturada a ladrilhos.

Mas a pedra ainda pulsa
A ineficácia das fugas.

Ao redor
a música dos ponteiros
imita
a ameaça da bomba.

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