segunda-feira, agosto 18, 2014
O que o lixo me deu
Eu era Criança-Menina
Um Pássaro Sujo
e com fome
E o lixo me deu
certa vez
um saco repleto de livros;
uns bonecos tristes e mutilados
e um caderno velho de poemas
que eu lia pros gatos;
que eu lia pra lua
que eu lia na rua
quando lá não havia ninguém.
E o lixo me deu outras coisas:
porque lá atiravam
pneus em chamas
então o lixo me deu minha primeira queimadura;
porque lá atiravam cacos de vidro
então o lixo me deu meus primeiros ferimentos;
porque lá atiravam animais que morriam
então o lixo me deu o cheiro podre
do corpo sem alma.
O lixo me deu
certa vez
uma caixa com muitas memórias dos outros:
cartões com figuras em alto-relevo
que guardavam mensagens de desejos de felicidades eternas;
cartas para um amor distante;
pequenas anotações ordinárias;
fotografias em sépia.
O lixo meu deu
misturada a cor amarela daqueles papéis
uma miséria que era maior que a miséria
que eu tinha,
e eu senti com força
a força de toda saudade do que não existia
e um gosto
de tempo
de resto
e ruína.
Eu era uma Criança-Menina.
Eu era a Menina Encardida
que ninguém queria amar.
Eu lia poemas pros gatos;
eu lia poemas pra lua;
eu lia poemas na rua
quando lá não havia
ninguém.
quinta-feira, agosto 14, 2014
Refrão para um blue
Sonhei que tinha perdido uma caixinha vermelha, com algo valioso dentro.
A pessoa que eu mais amava no mundo brigou comigo e, em seguida, me deixou.
A caixinha vermelha com algo valioso dentro não era aquela que guarda minha gaita.
A caixinha vermelha era meu coração.
Refrão para uma manhã chuvosa
Amor que grita
e ninguém escuta
Amor que abre
a ferida oculta
Amor que morre
e ninguém sepulta
e ninguém escuta
Amor que abre
a ferida oculta
Amor que morre
e ninguém sepulta
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